Como não sabia o destino que seguiria, partiu rumo ao leste. Na hora em que começou a arrumar a mochila, duas alças numa calça de brim batida, pensou na mãe principalmente e em todos os desgostos que a dera, não tinha certeza se devia mesmo deixá-la antes de tentar uma redenção, sabia que existe o risco de, caso volte, a mãe ter partido pro sempre, já andava muito reumática com os pulmões massacrados pelo tabaco, seu inseparável algoz, nem o doutor ameaçando a convenceu. Uma certeza era a de que aquela cidade já lhe cansava as têmporas e a gota d'água lhe afogou num descontentamento e desesperança levando o a esta partida repentina, mas pensava na mãe ao jogar as camisas na mochila. Os dois viveriam a míngua social numa cidade sem oportunidades para quem não anseia o sucesso nem vislumbra o enriquecimento a qualquer preço. Escraviza os seus semelhantes com jornadas de trabalho penosas, salários nunca justos, política imperativa, não cumprem leis trabalhistas básicas; e uns muitos que alegam necessidades se submetem a esse ritmo de subserviência. Cansou de tentar abrir seus olhos, também suas necessidades amadureceram no tempo. Vai pro mundo, aqui ele seria condensado pelo marasmo dos ignorantes que desrespeitam a própria cultura e travam disputas diárias pela sobrevivência débil. Uma cidade sem cinema e nem teatro; sem consciência ambiental, destroem seu cerrado e grutas pela simples especulação pecuniária. Bastou para ele. Bastou a política da elite, o falso moralismo desses hipócritas.
Alçou os ombros, disse fica com Deus à mãe que já chorava ao abençoá-lo. Abraçou a enquanto pensava nos desgostos que a dera novamente, ao menos esse seria o último, confortou se e partiu rumo ao leste.