"A inteligência é feita por um terço de instinto - um terço de memória - e o último terço de vontade." (Carlo Dossi)

"É necessário que os princípios de uma política sejam justos e verdadeiros." (Demóstenes)












segunda-feira, 6 de setembro de 2010

__Cuidado, você não precisa morrer

Passava da meia noite, era um dia normal de quinta feira e a esse momento a cidade estava deserta, surgindo vez por outra os mesmos veículos em velocidade e imprudência extremas que só não causam acidentes mais graves porque a música alta dá conta de avisar aos transeuntes que suas vidas correm perigo e que um louco vem por aí, eu era um transeunte e com os playboys não me preocupava.
Aquela quinta feira, digo de quinta para sexta, estava muito silenciosa, pelo menos no caminho que eu escolhi, era a primeira vez que eu resolvia passar por esse lado da cidade subindo a avenida Governador Valadares e 'quebrando' alí próximo ao estádio municipal numa parte sabida por mim erma.
Naquela quinta feira durante o dia o telefone da casa da minha mãe tocou duas vezes, e nas duas eu atendi o aparelho e uma voz grossa rasgada e ameaçadora:
__Cuidado, você não precisa morrer.
Como qualquer um de vocês pensaria, eu tambem pensei que se tratasse de algum trote de algum amigo com o senso de humor sarcástico, banal, ridículo e imaturo. Não dei bola para os telefonemas ficando mais nervoso com a perca de tempo do que preocupado com a ameaça ou aviso ou sei lá o que fora, sei que me esqueci do acontecido durante o dia todo. Tratei de ocupar-me cedo e só desocupei-me durante às nove da noite, hora em que fui até a prefeitura, não o estábulo mas a praça. Fiquei na praça até pouco mais da meia noite resolvendo ir embora por outro caminho. Inconscientemente, acho, me sentia ameaçado com o telefonema, mas não me lembrava ainda do episódio com importância.
Não me lembrei do telefone até chegar a um ponto escuro e silencioso onde nem os playboys iam tirar onda e não se via carro algum na pista, nem música, nem nada, apenas o silêncio sepulcral mesmo. Alí, comecei a sentir aquele famoso frio da mania de perseguição e pensei no telefonema e imediatamente havia criado uma série de eventos que levariam alguém a me ameaçar. Uns eram estapafúrdios e engraçados, outros impossíveis, mas nenhum havia fundamentação suficiente que justificasse algum torpor por parte de minha tranquilidade.
De repente surgiu do meu lado um carro preto, sedan, vidro escuro, maçanetas prateadas, sem som ligado e de onde na janela atrás do motorista saiu para fora apenas a cabeça e as mãos de um homem careca, cabeçudo, rosto marcado, fala mascada exibindo uma pistola 9mm. Sem apontar para mim a arma, ele olhou nos meus olhos e disse:
__Cuidado, você não precisa morrer.
Em um segundo não havia mais vestígios do veículo a não ser o cheiro da borracha queimada que impregnou aquele instante de reflexão e medo que me dominava.


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